Era uma vez uma mulher.
Essa mulher era amada.
Por ser amanda, era reconhecida como inteira em si mesma.
Por ser reconhecida, era livre para existir.
Essa mulher vivia com os pés na terra e a cabeça nas nuvens,
possuía todos os atributos de uma deusa.
Era humana e ao mesmo tempo divina e havia algo de selvagem em seus olhos
que nenhuma civilização ou religião poderiam domar.
Por isso mesmo,essa mulher foi temida e, por ser temida,
foi reprimida e banida do convívio dos demais.
Ela foi queimada nas fogueiras da ignorância,
amordaçada nas malhas da censura,
presa nas correntes da indiferença.
Após tantos séculos de repressão, aqueles que a haviam reprezado
acreditavam que sua luz havia finalmente se extinguido;
que sua natureza selvagem e aterradora havia desaparecido por completo.
Porém, essa mulher faz parte da própria natureza,
ela é a própria natureza e não pode ser aniquilada.
De sua completude temos apenas resquícios
mas ela sobrevive nas histórias e nos contos de fada
e no fundo da alma de todos, homens e mulheres
que sentem um profundo sentimento de vazio e solidão em suas vidas.
Eles escutam o chamado que vem dos ossos,
das profundezas da carne.
O chamado da mulher selvagem, há muito reprimida,
há muito massacrada mas de nenhuma forma esquecida...